CASAS NOVAS

bairros populares
Os bairros populares que ainda têm lotes vagos são, muitas vezes, situados em zonas de expansão urbana. Têm infraestrutura urbana básica e são pouco servidos de serviços e estabelecimentos. Os lotes são geralmente pequenos, chegando a ter 200m² de área. Planejar espaços bem iluminados, ventilados e amplos e ainda cumprir a Lei de Uso e Ocupação do Solo local é no mínimo desafiador. As construções vizinhas sempre cumprem com um modelo conhecido, localizadas no meio do lote, pouco afastadas das divisas e impermeabilizando todo o lote. Esses exemplares pouco se utilizam dos desníveis existentes, e procuram sempre implantar a casa num só platô, promovendo grandes retiradas de terra ou elevando muito as construções, o que provoca fundações muito profundas e até a necessidade de adquirir terra.

Os proprietários dos lotes, autoprodutores autênticos, têm, naturalmente, restrições orçamentárias e mal podem arcar com os custos de um serviço de arquitetura ou de um acompanhamento técnico fora dos moldes convencionais. Serviços de engenharia como cálculo estrutural, sondagem e acompanhamento de obras se tornam, nesse contexto, serviços de luxo, e o arquiteto acaba tendo que conhecer mais de assuntos até então pouco abordados durante a sua carreira profissional, como o dimensionamento de vigas e pilares, a resistência dos solos e a escolha do tipo de fundações, a quantidade de ferragem, a espessura ideal de contra pisos, questões sobre drenagem pluvial, impermeabilização e arrimos, dentre muitos outros. O arquiteto acaba sendo solicitado não somente na concepção espacial, mas principalmente e, até mais efetivamente, na construção propriamente dita, pois cada aspecto será detalhadamente avaliado e questionado pelos proprietários no que se refere ao seu aspecto técnico-construtivo. “Como executar isso? Como devo instruir meu pedreiro? O que devo comprar?”

 

bairros médios
O que é demandado aos arquitetos ao planejarem casas novas em bairros populares não difere muito do que ocorre nos bairros médios. O fato de o arquiteto ser solicitado não apenas como mentor do projeto, no que se refere a questões espaciais, mas também para dar explicações e informações concretas de como as coisas são construídas acontece muito também nesse contexto. A autoprodução está diretamente relacionada à distinção de classes, sendo mais presente nas classes populares, porém não podemos afirmar que ela inexiste em bairros médios e até em bairros de classe média-alta. Ao contrário, a autoprodução é uma escolha e está diretamente relacionada com o grau de envolvimento que o morador se dispõe a ter na produção da sua moradia, sendo ele de qualquer classe social.
Mais uma vez, aparecem ruídos na interface do projeto arquitetônico com a engenharia, não por problemas de compatibilização, o que é facilmente contornado pelo arquiteto. Hoje em dia há softwares especializados para isso, de manuseio razoável. Descompassos de outra ordem emergem durante o processo de projeto e de construção. O valor cobrado para o cálculo estrutural, sondagem, acompanhamento e responsabilidade sobre a obra, por exemplo, são muito superiores em relação ao que é esperado pelos moradores e mesmo em relação ao valor de um projeto arquitetônico cobrado à maneira convencional. A diferença entre o material previsto para a execução da estrutura calculado pelo engenheiro civil e o que os mestres de obra estão habituados a dimensionar empiricamente também é ruidosa. De um lado, os engenheiros se apóiam no cálculo para justificarem seu projeto e de outro, os mestres de obras se apóiam na experiência e rejeitam o dimensionamento exagerado requerido pela engenharia. 

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